domingo, 2 de abril de 2006

Um conto


As pálpebras teimavam em tremer, permitindo que a luz invadisse sua mente e a despertasse. Espreguiçou-se demoradamente, tocando as mãos na tábua envelhecida da cama comprada num brechó, pensou que poderia ter optado por um tamanho um pouqinho maior, assim abarcaria melhor seus sonhos. Virou-se de súbto ouvindo a respiração ao seu lado, tão próxima e quente que poderia ser a sua. Olhou por cima do ombro, um belo corpo ao seu lado fazendo recordar onde andara na noite anterior, as lembranças agora eram frescas. O abajur ainda ligado, eventualmente, ainda exercia sua função enquanto os raios de sol não surgiam para encobrir aqueles dois corpos ali estendidos. Levantou-se cambaleante, camiseta cinza e unhas dos pés vermelhas, agarrou a meia taça de vinho adormecida sobre o criado-mudo ao seu lado. Levou-a aos lábios, que outrora estavam devidamente mascarados com seu batom cobre, mas agora estavam despidos de qualquer máscara e assim é que deveria ser vistos, pequenos e bem desenhados. Aproximou-se da janela, próxima à cama e respirou profundamente a vento frio da manhã e deixou que os lábios formassem um sorriso que ela conhecia bem. Estava em mais um dia relamente feliz. Ele supreendentemente estava ali. Sentiu de súbito uma vontade de registrar aquela paisagem, que lhe era tão instigante e prazeirosa. Correu até a mesa de trabalho á 5 passos de onde estava, descançou o copo, já vazio, abriu sua bolsa verde com alças de argolas prata e pegou o celular. Abri-o com cuidado e deixando seu corpo apoiar-se sobre`a mesa, olhou para suas unhas vermelhas e não gostou do que viu. Voltou rapidamente sua atenção para o que estava fazendo anteriormente. Começou a digitar:
TOM está ao meu lado nesse momento.Noite muito feliz. Queria registrar, não apague a mensagem e volte a dormir sua danadinha!
Ass: Greta
Guardou-o e pegou um cigarro, acendeu-o e tragou-o profudamente deixando-se invadir por mais um pouco de prazer. Caminhou pelo carpete marrom, foi até a cama, apagou o cigarro no cinzeiro ganho de brinde em uma loja de perfumes. Sentiu o vento bater calidamente em seu rosto novamente, virou-se e agora, com os primeiros raios de sol a invadir a janela. Isto o fez acordar. Ela o olhou com languida satisfação, ele balbuciou:
- Que horas são?
- Hora de apagar o abajur!

Um comentário:

Anônimo disse...

ei, dona ela... legal esse conto. e mais legal o que vc deixou lá no blog pra mim. volte sempre. bj