
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
Perder com categoria não inviabiliza dor, não abranda ferida, não conforta a descida. Perder é ativo, perda é assimilação, como a poesia de Drummond. Entender porquê agimos no modo presente, a algo que já passou revela o apego ao que jaz, mas vivo está em nós.
Para mim, então, morto, acabado, absorvido, assimilada, isso sim!Essa simbiose, “aquela”... fim.